terça-feira, 7 de agosto de 2007

Mesa redonda da qual não fui convidado

Andrew Keen deu uma entrevista à revista Época (que inclusive está disponível on-line no site http://revistaepoca.globo.com/) sobre seu novo livro. Lendo a entrevista me inspirei a criar esse post (que talvez esteja um pouco mais longo que a média) no qual eu me convidei a participar da entrevista como se fosse uma mesa redonda. Andrew Keen é um pensador inglês muito renomado. Ele é formado em história e foi um dos pioneiros da internet com sua empresa Audiocafe.com. Hoje mantém o site thegreatseduction.com. Abaixo segue a integra da entrevista com a minha participação na mesa...da qual não fui convidado.

ÉPOCA – O senhor diz em seu livro que o conteúdo de internet produzido pelo cidadão comum gera um culto ao amadorismo. Por que considera isso uma ameaça a nossa cultura?
Andrew Keen – É uma ameaça porque cria a ilusão de que todos somos autores, quando, na verdade, deveríamos ser leitores. Dá às pessoas ilusão sobre suas habilidades. Todo mundo tem algum talento, mas a maioria de nós realmente não tem muito a dizer. Somos melhores lendo um jornal ou assistindo à televisão do que tentando nos expressar na internet.
Marcio Borges - Não acredito que o fenômeno da web 2.0 gere um culto ao amadorismo. Na verdade, embora nem todos possam ser autores, todos possuem opinião. O grande fenômeno da web 2.0 é que as pessoas comuns hoje podem expressar sua opinião de uma maneira mais ampliada. O que antes ficava limitado a um bate-papo no café ou no bar, hoje pode extrapolar fronteiras geográficas. O que cria amadorismo é falta de educação, de formação e de senso crítico.

ÉPOCA – Por que o senhor afirma que esse fenômeno pode destruir a mídia tradicional?
Keen – Parte da mídia tradicional já foi destruída. Estamos assistindo à morte lenta da indústria da música, estamos assistindo à morte lenta dos jornais locais nos Estados Unidos. Não acho que nós viveremos num mundo sem nenhum profissional especializado em agregar informação. A questão central é a idéia de que os consumidores continuarão a pagar por conteúdo. Você já vê no mercado fonográfico que eles não vão. Mais e mais pessoas pensam que a música deve ser livre e estão roubando-a. A mídia tradicional não vai exatamente morrer, mas vai mudar dramaticamente. Os meios de comunicação de massa – que considero democráticos e onde conteúdo de qualidade é acessível pelo preço de US$ 10 ou US$ 15 para comprar um CD, assistir a um filme ou comprar um livro – talvez se tornem coisa do passado. Enquanto os utópicos digitais falam sobre democratização da mídia e do conteúdo, acredito que a conseqüência é o aparecimento de uma nova oligarquia. A tão propalada democratização, na verdade, tornará o entretenimento cutural de alta qualidade menos acessível às pessoas comuns.
Marcio Borges - Concordo que a indústria da música, da cultura e da informação está sofrendo uma grande transformação. Mas isso não é a morte. O que temos hoje é uma grande reserva de mercado da informação e automaticamente isso não é salutar para os mercados. Obviamente que isso está criando uma nova oligarquia, e isso é o que incomoda. O poder está mudando de mão ou se dividindo e isso sempre gera ansiedade e defesas veementes. E com relação ao entretenimento cultural de alta qualidade estar menos acessível, discordo totalmente. A digitalização dos meios pode permitir que mais pessoas tenham acesso a conteúdo de qualidade por meio de mais canais. Quanto mais for distribuído um conteúdo, mas ele tende a ficar acessível. Essa é a regra de mercado. Mais oferta, mais demanda, preços mais baixos, mais acesso.

ÉPOCA – Entusiastas da web 2.0 dizem que os blogs, independentes de grandes interesses, são uma fonte pura de informação. Por que o senhor discorda?
Keen – Alguns blogs são muito bons. Mas os blogs não são objetivos. Não tenho problemas com a blogosfera se você ler o jornal antes. A blogosfera depende de a pessoa ser familiarizada com a mídia sofisticada. Se você está familiarizado com notícias, se entende como a tecnologia funciona, a blogosfera pode ser útil. Mas preocupa-me que, especialmente para os jovens, a blogosfera se torne uma fonte substituta de notícias. Eles acreditam em tudo o que lêem, então me preocupo que a blogosfera se torne forte numa sociedade em que as crianças não fazem a menor idéia de como ler “através” das notícias. Elas estão perdendo sua capacidade crítica. Você sabe que o The New York Times é pró-Israel e socialmente liberal. Sabemos que o The Wall Street Journal é editorialmente muito conservador. Não há jogos, é óbvio, você pode ler através. Em muitos blogs, não.
Marcio Borges - Esse ponto é interessante. Da mesma maneira que a mídia tradicional produz lixo, a web 2.0 também produz. Aliás, a web 2.0 produz muito mais lixo (pela facilidade e pelo acesso), mas o que vale é sempre a credibilidade da fonte. Se a fonte é crível, tanto na mídia tradicional quanto na web, ela pode ser boa. Isso só depende de senso crítico, e senso crítico depende de ensino. Na verdade a maior parte das pessoas acreditam em tudo que lêem ou vêem, mas isso já acontece muito antes da web. Aliás foi assim que Hitler manipulou uma população inteira, é assim que alguns países que censuram a imprensa manipulam suas populações e por aí vai. O que a web 2.0 permite é que pessoas comuns possam expressar suas opiniões para mais pessoas, exatamente como estou fazendo agora ao comentar essa entrevista.

ÉPOCA – Por que isso é perigoso?
Keen – Na mídia tradicional há meios de checagem. Se você não é anônimo, todos sabem quem você é, para quem você trabalha. No mundo on-line, não sabemos quem são essas pessoas que operam em sites como Digg.com (o site que estabelece um ranking de notícias interessantes com base no voto de internautas), Reddit ou Wikipédia. Elas poderiam estar num programa do governo, numa organização terrorista, numa corporação, como Wal-Mart ou Exxon Mobil, colocando conteúdos no YouTube, na blogosfera, fingindo que isso é independente. Isso nos deixa à mercê de uma nova oligarquia, num mundo onde é mais difícil checar a verdade que na mídia tradicional. Os utópicos digitais falam em democratização da mídia e do conteúdo, mas a conseqüência é uma nova oligarquia.
Marcio Borges - Não existe utopia nisto. É fato que uma nova oligarquia está se formando, e é mais interessante ainda a maneira que uma ferramenta de busca pode manipular ou não o resultado, direcionando a sua busca para aquilo que ela tem interesse em te mostrar. Mas aí volto ao ponto inicial. A partir de momento que essa ferramenta perca sua credibilidade ela deixa de ser uma agregadora de informações. E é nisso que temos que estar sempre preocupados. Nada diferente do que já acontecia com os veículos tradicionais, que nem sempre sabemos também a que interesses ele estão subordinados. Isso existe desde que o mundo é mundo, em credos, em sistemas econômicos, sistemas políticos e por aí vai. O que acredito que de fato venha a acontecer, é que a mídia vai se abrir extraordinariamente até um ponto em que ela vai se agrupar de novo. E aí existirão os "orientadores profissionais" críveis que estarão recomendando o que se deve e o que não se deve ler, ver, ouvir - e cabe a você decidir sobre isso.

ÉPOCA – Alguns especialistas consideram a web 2.0 uma manifestação da “sabedoria da multidão”...
Keen – Na teoria, a sabedoria da multidão pressupõe o envolvimento de todos. Nesse caso, todo mundo estaria envolvido, todo mundo estaria editando a Wikipédia, todo mundo estaria adicionando recomendações no Digg ou no Reddit, todo mundo estaria adicionando resenhas no Amazon e talvez isso fosse um bom trabalho. Mas, na realidade, a maioria de nós não faz isso porque não tem tempo, interesse ou energia. O que chamamos de “sabedoria da multidão” tem sido seqüestrado por uma pequena elite, por uma oligarquia. Somos atingidos por uma cultura em que as pessoas no controle não são transparentes ou responsáveis. Isso é assustador.
Marcio Borges - É verdade, talvez nem todo mundo tenha tempo, interesse ou vontade de fazer recomendações ou expor sua opinião, e aí, acaba que as recomendações podem ficar limitadas a quem realmente tenha algum interesse oculto. Isso é assustador. Cabe então à todo mundo saber disso e começar a participar desse fenômeno ou então não se aproveitar dele. A partir do momento em que o desconhecido passa a ser conhecido ele deixa de ser assustador.

ÉPOCA – Quem são os membros dessa nova oligarquia?
Keen – Muitos são jornalistas fracassados, gente que não conseguiu ser da mídia, por isso é ressentida, raivosa. Eles têm fome de poder. Representam um novo tipo de oligarquia que encontrou um meio de obter uma grande parcela de poder. São treinados, podem ter agendas sobre as quais nada sabemos. São tendenciosos, bem formados, jovens, raivosos e radicais. Não têm valores significativos, na minha visão, para a nossa cultura.
Marcio Borges - Será que todos são fracassados porque não conseguiram seu espaço na mídia? Essa é a questão. O próprio mercado pode expurgar pessoas sobre as quais não se tem interesse. Mas o mercado também pode expurgar muita gente boa que simplesmente só está tentando fazer alguma coisa diferente. Isso do ponto de vista da criatividade é fantástico, e significativo para a nossa cultura. A mídia não pode absorver todos os talentos que surgem diariamente, e elas escolhem por nós o que é bom e ruim. Ora, quem pode me dizer que alguns programas que temos hoje são realmente bons? Não vou nem exemplificar porque qualquer um tem pelo menos dez exemplos de conteúdo muito ruim.

ÉPOCA – Por que o senhor questiona a confiabilidade de sites como Wikipédia ou Digg.com?
Keen – A Wikipédia é um dos grandes perigos porque é tão inconfiável, tão pobre, tão falha em todos os tipos de conteúdo. O Digg é particularmente problemático. Minha forte suspeita é que as recomendações são feitas por grupos de ativistas, de garotos de 20 e poucos anos, sem nada melhor para fazer. Não devemos confiar porque não sabemos quem está recomendando aquilo. Eles são anônimos, podem estar tentando moldar nosso gosto de acordo com interesses particulares. Na Wikipédia ninguém sabe quantos editores realmente existem, quem são eles. Como as pessoas têm tempo para editar a Wikipédia ou para continuamente fazer recomendações no Digg? Como pagam suas prestações ou põem comida na mesa? Não sei, nem você. O modelo do Digg, do Reddit e da Wikipédia se presta à corrupção. Todos os dias há novas evidências de que as pessoas estão usando esses sistemas em benefício próprio.
Marcio Borges - É, talvez alguns sistemas de conteúdo colaborativista estejam usando as recomendações em benefício próprio. Mas isso já acontece desde sempre, independente da web. Volto a afirmar, a web 2.0 pode reproduzir sistemas de manipulação que já acontecem há muito tempo, mas também pode permitir que surjam novos sistemas. Essa é a vantagem. Todo mundo pode tentar se expor e defender seus pontos de vista.

ÉPOCA – No livro Como a Picaretagem Conquistou o Mundo, o jornalista inglês Francis Wheen mostra que teses absurdas, tolas ou falsas são aceitas com facilidade. A web 2.0 é uma delas?
Keen – Há muita picaretagem sobre a web 2.0. As três palavras que representam as maiores picaretagens na internet são os “3Cs”: conversação, colaboração e comunidade. É por isso que escrevi meu livro. Para dizer: “Olhe, a maior parte disso não é verdade, é apenas bobagem, é picaretagem, lixo”. Mas há mais que isso em jogo. Há gente ficando rica com tudo isso. Quem tem ações do Google, YouTube, MySpace está juntando uma fortuna. É um negócio sério, há interesses importantes demais envolvidos para ignorarmos o que está acontecendo.
Marcio Borges - Tem muito interesse por trás e muito lixo. Mas também muita oportunidade. É essa possibilidade que incomoda. Muita gente nova está ganhando dinheiro com isso e tirando de alguém que já ganhava. Essa é a regra de mercado, sem reserva, aonde as oportunidades podem ser mais equilibradas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O mapa mundial das redes sociais




Aqui está o mapa da dominação mundial através das redes sociais. De acordo com a Alexa.com, esse é o retrato de quais sites de redes sociais estão mais presentes na vida das pessoas por país.

Alguns registros importantes:
- Orkut lidera na índia subcontinental e no Brasil;
- Facebook é mais forte, internacionalmente, que o Myspace.
- Hi5.com é o mais internacional de todas as redes sociais, liderando no Perú, Colombia, América central e outros países tais como Mongolia, Romênia e Tunísia;
- Bebo e Skyblog seguem padrões coloniais. O primeiro é forte em pequenos países de língua inglesa tais como Irlanda e Nova Zelândia e o segundo em países de língua francesa;
- O Friendster, o percursor das redes sociais, lidera por todo sudeste asiático;
- Fotolog, um serviço de publicação de fotos desenvolvido nos EUA pelo Friendster, ressurge como rede social dominante na Argentina e no Chile.
Isso mostra efetivamente a identificação de padrões locais para a construção das redes sociais. O que isso quer dizer é que a rede social segue todo o modelo de afinidades e preferências culturais típicos de uma nação, porém, com muito mais abrangência e poder de agregrar.
Fonte: valleywag.com