segunda-feira, 9 de julho de 2007

"Stressisão" - A angústia da compra e a hipercompetitividade

A crescente oferta de produtos similares no mercado vem tornando cada vez mais a escolha de um produto ou um serviço um processo angustiante. Angústia essa que não é resolvida imediatamente após a compra, pois atualmente está cada vez mais comum escutar as pessoas se lamentando que deveriam ter comprado "um outro produto" depois de efetivada a compra. A necessidade das empresas de tornarem - de uma forma cada vez mais rápida - obsoleto seus produtos , uma vez que elas de fato não tem nenhuma inovação para apresentar, torna a compra sempre uma questão de felicidade parcial e não duradoura.

Hoje tomar a decisão de compra de qualquer coisa se torna stressante pela infindável oferta de produtos similares: qual operadora de celular usar, qual aparelho celular comprar, qual MBA fazer, qual carro, qual academia, qual livro, qual investimento fazer, qual plano de saúde, qual computador, qual TV - de qual tecnologia, etc?

Dentro desse mesmo cenário, vemos essa angústia se repetir na escolha dos meios de informação e de comunicação dada sua infindável oferta: qual programa assistir, qual revista, qual blog, qual noticiário, qual filme, etc?

Anteriormente, a propaganda tradicional se valia da mídia de massa para validar essa escolha mediante a construção da marca via exposição dos argumentos através de seus canais de comunicação. Atualmente esses canais são diversos e não necessariamente constroem essa escolha e tampouco resolvem essa angústia, pois aumentou a oferta de meios e a oferta de produtos.

Nesse cenário, e com a crescente construção das redes sociais através da internet, torna-se importante validar a escolha através da orientação "profissional" estabelecida nas redes sociais. Ou seja, grande parte dos consumidores para validar sua compra - de qualquer coisa - buscam informações através de blogs específicos sobre o assunto, de comunidades estabelecidas de gente que gosta da mesma coisa, e principalmente da recomendação dessas pessoas comuns que já consumiram o produto que se deseja comprar. Quantas pessoas foram impactadas por determinada campanha na mídia de massa e ao buscar mais informações sobre o produto acabaram comprando o produto concorrente pois estava melhor recomendado por outras pessoas?

Esse fenômeno da inteligência da coletividade, aonde recomendações de pessoas comuns fizeram com que produtos praticamente sem conhecimento explodissem, vem impactando cada vez mais no planejamento da comunicação. Exemplos de tecnologias agregadoras de conhecimento e recomendações que antes praticamente só existiam nas lojas on-line - como a Amazon, vem se solidificando nos exemplos off-line. Ou seja, a mescla da presença off-line com a recomendação on-line nas redes sociais vem se tornando uma premissa para que produtos aconteçam ou não aconteçam.

Esse fenômeno acontece para qualquer produto e não mais somente para produtos de alto valor. Hoje o consumidor busca recomendação de vinhos, de queijos, de celulares, de computadores, de livros, de carros, de restaurantes, de filmes, de destinos turísticos, de hotéis e de tudo mais que ele quiser comprar. E ai da sua marca não fazer parte dessas recomendações nas redes sociais.

A "stressisão" (termo que estou adotando para a tomada de decisão sob stress) da compra só é diminuída através dessas recomendações. E essas recomendações podem vir de qualquer lugar do mundo - sem fronteiras.

Se torna imperativo, atualmente, que um planejamento de comunicação eficaz contemple a interferência positiva da campanha nas redes sociais. Através disso podemos amplificar o alcance da campanha e consequentemente os efeitos de aceitação do produto.

Um comentário:

disse...

Márcio,

O stress que o consumo trouxe parece ser uma forma de canalizar toda a ansiedade do mundo pós-moderno. Nada será suficientemente satisfatório, até que seja consumido e substituído por um novo desejo. A busca da saciedade contínua está imersa no inconsciente coletivo, que percebe o discurso da mídia como verdade inconteste. Nesse círculo vicioso, encontra-se o bom profissional de comunicação – autor de um romance perfeito entre mercado e consumidor.
Tomo a liberdade de fazer um paralelo entre a angústia causada pela necessidade de consumo e a mensagem da música 'Miedo', composta pelo Lenine e interpretada em parceria com Julieta Venagas. O resultado é a incrível mescla do português com o espanhol, em ritmo bem dançante. E o que há de mais relevante nesta música é a sua contemporaneidade, pois boa parte dos seus 65 versos tem algum vínculo com o mundo real. Vale conferir: http://br.youtube.com/watch?v=s_-3vbMrft4